segunda-feira, 26 de julho de 2010

O fim de mais um amor de novela

Amor entre homem e mulher tem data de validade. Uma data que varia conforme cada casal se permite. Mas o amor sempre, invariavelmente, acaba.
Ás vezes, por ironia do destino ou por pura sorte do acaso, o fim se dá depois da vida. Muito ás vezes, veja bem.
O que acontece é que esse tipo de amor tão único, extenuante, ciumento, perde o fôlego. Ele chega num clímax, mas depois cansa em si próprio, e quando deixa a arte obscena da criatividade de lado, fica só a rotina. A mesma coisa enjôa, e o ser humano enjoado busca algo mais. Daí vem a insatifação. Assim como feijão com arroz enche o prato mas não satisfaz o paladar. Chega uma hora que papai e mamãe enche o saco, encontrar a mesma pessoa com o mesmo pijama, enche o saco mais ainda. Tudo fica cansativo e repetitivo e daí para o fim, não tem mais volta.
O que impressiona é que nunca estamos preparados para o fim do amor. Ele, que motiva as novelas das seis, sete e oito, que é tema dos melhores filmes hollywodianos, que é cantado nas músicas de rock, sertanejo e pagode. Ele, que é universal, que é almejado por todos. Porque nunca ninguém nos preparou? Porque nunca nos falaram que o amor não era, enfim, eterno???
A verdade é que no fundo não gostamos de assumir essa realidade. Afinal, poucas coisas são tão dolorosas quanto o fim do amor verdadeiro.


Mas como dizia o bom poeta

'Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure'.



domingo, 25 de julho de 2010

O bar com banheiro unissex

Quando nasci, o obstetra gritou na sala de parto:
- É menina!
E daí em diante se traçou um caminho um tanto quanto comum. Me escolheram um nome femino, pintaram meu quarto de liláz e adquiriram uma certa quantia de vestidos que tinham mais bordados do que o T5 tem de passageiros em dia de passe livre.
Os presentes, nas datas comemorativas, não variavam muito. Ou bonecas, ou panelinhas e pratinhos. Como de praxe, me inscreveram na ginástica rítmica, nas aulas de piano e, por sorte e com ajuda do divino, me deixaram fora do balé.
Na pré-adolescência não mudou muito. Ainda lembro da primeira maquiagem e do primeiro salto alto. Lembro do sutiã que tanto sonhei, mesmo que sabia que não tinha o mínimo de peito necessário pra conseguir usar um. E, como esperado, veio também a tentativa de educação para a moral e os bons costumes.
- Namorar só depois da faculdade, diziam.
E mesmo assim, na adolescência deram força para a minha primeira paixão. Podia não ser perfeito, mas era melhor que muita coisa – pensavam.
E desde sempre fui menina, usei rosa, me olhei no espelho, me amei.
E hoje, aos 23 anos, pela primeira vez, sinto que não preciso mais 'ser mulher, feminina, dócil como toda mulher deve ser'. Me dei conta que posso ser simplesmente eu mesma, com meu jeito, minhas características. E isso reforça que no fundo somos todos seres humanos, temos um lado feminino e um masculino, e amamos, sentimos e vivemos independentemente do sexo ou da cor da roupa preferida. Homens ou mulheres, somos todos iguais.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

O médico doente ou Cada merda que a vida apronta

Complicado é o paradoxo. Pela manhã uma menina linda morrendo, os cuidados intensivos, a tristeza, a sensação de impotência.
A tarde vem um qualquer, que de jaleco se diz médico. Mal olha no rosto, não pergunta nem conversa. E solta um diagnóstico besta como se não fosse nada. Pra mim é, sou eu que estou doente. Não dou a mínima se ele vê essa doença todos dias, se ele sabe tudo sobre sua fisiopatologia. Eu exijo empatia, respeito, esclarecimentos.
Ele não é melhor que eu, então porque se eu dou a atenção devida aos meus pacientes, se eu atendo a todos como se não houvesse amanhã e como se houvesse tempo para todas suas dúvidas, porque comigo precisa ser diferente?

E eu tentei afogar as mágoas com milkshake, comprando uma manta, deitada na cama quente com o aqueçedor ligado. E a dor não passou e não sei se vai passar tão cedo.
Tenho certeza que, se pelo menos eu estivesse longe, tudo seria mais fácil. Mais dia, menos dia, estarei curada, estarei longe e estarei feliz.
E pelo menos saberei que, sempre que alguém pegar doença, baixar hospital ou morrer, eu farei o máximo para minimizar a dor. Afinal, se é ruim ficar doente, pior ainda é sentir-se só e desamparado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Vivo

Quando chega a hora de dormir passou mais um dia.
Um dia a menos de vida.
Um dia a menos de diversão, risada, alegria.
Um dia a menos de irritação, tristeza, agonia.
Tudo depende do ângulo, obtuso ou obsceno.
Eu sinto falta do tempo que perco com sono.
Eu sinto falta do tempo em que amava um moço.
E sinto falta do amanhã, que não chega tão cedo.
Mas para que chegue, o mais rápido possível.
Eu finjo que amo a vida que vivo.
E se me dou conta, já amo, já gozo, não finjo.
E vivo outro dia, de tesão, de alegria.




sexta-feira, 16 de julho de 2010

2

- Tu gosta de psiquiatria ou psicanálise?
- Eu gosto dos dois – respondi.

E assim foi uma das tantas confissões que fiz à ele naquela viagem. E não sei porque, essa não sai da minha cabeça.

- Eu poderia te resumir em algumas palavras... 'Eu gosto dos dois.' Completou.

E agora, 6 meses depois, já não sei mais se gosto dos dois ou se não gosto de nenhum. Tudo que acreditava, mudou de lugar. Tudo que gostava já não é mais igual. E eu sinto que preciso me decidir, que essa dúvida já não tem espaço. Definitivamente, gostar dos dois não dá mais.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Futuro

Hoje acordei às 7 em ponto, comi um pão integral e tomei meu Nescau.
Em 10 minutos já estava de roupa, olhando os e-mails. Tudo como sempre.

Até que tive um insight:
Estou me formando e não faço a mínima idéia do que quero pra minha vida.
Não mínima noção do que quero fazer ano que vem.
E pior, não faço a mínima do que quero fazer pra sempre.

E assim passei o dia.
Peguei o ônibus, trabalhei, voltei, comi.
E depois do almoço, dormi um sono pesado.

Eu fiz tudo como sempre, mas pensando como nunca, no que quero, enfim, fazer da minha vida.

domingo, 4 de julho de 2010

C'est lá vie

Você sabe, as pessoas vêm com uma visão tão romantizada do termo apaixonada.
Eu nao sei aonde os limites começam e terminam.
Você...Você simplesmente sabe?
A luxúria é fácil para mim.
O amor é difícil.

sábado, 3 de julho de 2010

Bizarrices do dia 02 de julho

Tomo1
Aveida do Forte, 14h

Estávamos, eu e minha velha, caminhando por uma grande avenida. Nisso, fecha o sinal e diversos carros se acumulam na rua esperando a sinaleira abrir. De repente, de dentro de um carro um negão se põe janela a fora e começa a gritar em alto e bom som, e num ritmo absurdamente compassado:
“Uh que delícia hein
Uh que delícia hein
Uh que delícia hein
Uh que delícia hein”
Gargalhadas e vergonha. Muita vergonha.

Tomo 2
Banco do Brasil, 15h

- Oi, eu gostaria de entrar no banco pra fazer um saque.
- Porque tu não usa o caixa eletrônico?
- Porque eu perdi meu cartão.
- E essa é a tua agência?
- Não.
- Então tu tem que ir sacar na tua agência.
- Eu quero sacar aqui.
- Aqui não pode, tu tem que ir sacar na tua agência.
- Como assim não pode?
- Quando tu tiver o teu cartão, tu vem sacar no caixa eletrônico. Sem cartão não pode.
- Mas eu já fiz isso outras vezes.
- Mas não pode.
- Como não pode? Eu saquei ontem dinheiro aqui.
- Hãn?
- Ontem eu vim aqui e saquei dinheiro.
- Mas não pode.
- Então a regra mudou de um dia pro outro.
- Não mudou regra nenhuma.
- Como não, se ONTEM eu saquei dinheiro?
- Tu sacou dinheiro aqui ontem?
- Sim.
- Então vou te dar uma senha, tu espera até tua vez de ser atendida, mas tu vai ver que tu não vai conseguir sacar.
- Ok.
E saí do banco com 100 reais no bolso. E muita raiva.

Tomo 3
Avenida Cristóvão, 21h

Azarada como sempre, perdi o bus. Com uma lata de ceva na mão fiquei na parada esperando o próximo bus que, devido a hora que já era, deveria demorar uns 15 ou 20 min. Me aparece um mendigão e pede um 'traguinho'. Deixo a lata de ceva com ele, e, quando vê, o cara me tasca um beijo no rosto assim de sopetão. Eu, chocada.
Tu é muito linda, moça. Diz ele. E eu ok ok.
Ele se vai e eu, envergonhada de novo, com um sorriso no rosto, me vou para mais uma noite de sexta-feira.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ás vezes...

… eu queria ser normal.

Gostar das músicas da moda, vestir as roupas da estação. Queria sair no jornal Kazuka e achar o máximo, frequentar a Farms e pegar uns playboys, e me maquiar todo santo dia.
E usar salto como se fosse chinelo, ir no shopping como se fosse praça, ouvir sertanejo como se fosse rock.
Queria ler Caras como se fosse o romance, ver Avatar como se fosse Almodovar, tomar refri como se fosse cerveja.
E queria odiar andar de ônibus, ter medo da noite, das pessoas. Queria ter nojo de cerveja, cigarro, xis gordo.
Queria gostar de cara sarado, amar academia, adorar desfilar no Parcão.
E queria acabar com toda essa confusão.

Se eu fosse normal, tudo seria mais fácil.
Mas acho que nada teria graça.