quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Conversa Essencial

Ela, nos seus 50 e muitos anos, depressão moderada, várias tentativas prévias de suicídio. Ele, psiquiatra. Diz para ela numa consulta.
- Tu precisa sair para tomar um café consigo mesma. Precisa conversar contigo. Eu não vou trocar o antidepressivo ou acrescentar mais um pra lista. Eu te receito que vá à uma cafeteria, sozinha, conversar consigo mesma. E depois, se quiser, conte-me como foi.
E assim se encerrou mais uma consulta psiquiátrica do posto de saúde. Para ele, só mais uma consulta rotineira. Para ela, talvez a luz no fim do túnel (enfim alguém que me ouve e que deseja realmente me ajudar). Pra mim, um novo estímulo.
Afinal de contas, eu converso comigo mesma? Eu reflito o que vem me acontecendo, as coisas boas e ruins, o que pretendo do futuro, o que me arrependo do passado?
E a resposta, surpreendentemente (ou não) é sim.
Eu sinto um prazer descomunal em poder, ás vezes, fazer algo que gosto sozinha. Estar sozinha, de qualquer forma, nunca chegou a ser um problema. E são esses momentos que geralmente aproveito para decidir, raciocinar e pensar de fato o que se passa comigo, como me sinto, o que anseio do futuro. Muitas vezes não consigo o que planejo, erro novamente o mesmo erro, me irrito e deixo os planos de lado. Mas acho que a decepção, de certa forma, faz parte da evolução e da busca por melhora.
Mas, o principal que essa consulta me fez perceber, é como as pessoas se acomodam com a vida, param de olhar para si próprias, param de sentir prazer nas pequenas coisas do dia, deixam de se curtir como poderiam. E, sem esses momentos, as pessoas deixam de crescer, amadurecer, e ficam estagnadas no tempo. E o tempo, sem ninguém perceber, vai passando. Até que um dia, mais cedo do que muitos gostariam, vem cobrar sua conta.
Além de todas essas idéias, nesse dia percebi que existem outras pessoas que pensam como eu, que viajam em devaneios, que sonham e acreditam na felicidade, e isso me deixa, no mínimo, esperançosa. Eu acredito, sim, que tenho a capacidade de evoluir diariamente e que, de alguma maneira, posso um dia ajudar a tornar as pessoas ainda mais felizes. Pelo menos é isso que eu espero ;)

sábado, 22 de agosto de 2009

Aparências

"Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos


Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem"



Chocolate, engorda. Fritura, dá colesterol alto. Bebida, cirrose. Cigarro, câncer. Café, gastrite. Digitar, tendinite. Sexo, traz má fama. Cocaína, vicia. Beijar, dá sapinho. Ver TV, sinal alienação. Ouvir música alta, deixa surdo. Comprar roupa, coisa de perua. Viajar, de gastador...

E assim é nossa vida. Passamos os dias controlando as calorias que ingerimos. Nos esforçando para não beber, beijar ou gastar demais. Precisamos estudar toda matéria, trabalhar na melhor empresa, pagar as contas em dia. Temos que ser organizados, pontuais, serenos. Não podemos brigar por uma injustiça, chorar por um amor perdido, exagerar na festa de fim de ano. E, acima de tudo, precisamos manter uma reputação invejável, afinal, ela vale mais que nosso caráter.

E vivemos de aparências, fingindo a perfeição. Mostrando que não temos defeitos, que nossa família é a melhor de todas, que somos pessoas equilibradas, sem vícios. E, em meio a tantas cobranças, mal percebemos que não precisamos mais de uma dose de bebida, de uma noitada de sexo ou de uma roupa nova. Afinal, já não queremos mais viver. Queremos, apenas, existir.



quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Uma paixão de verão

Quando encontrei as outras 15 pessoas com quem iria conviver, já sabia. Todos estávamos dispostos a transformar as duas semanas que se seguiam em um período, no mínimo, inesquecível. E foi assim que começou nossa viagem à uma dimensão única. Um mundo chamado Tupã, isolado dos problemas mundanos, afastado das brigas e intolerâncias cotidianas. Todos nós tínhamos em nossa personalidade pelo menos um aspecto em comum: queríamos que essa viagem nos marcasse para sempre. Queríamos que fosse uma experiencia única e incrível. E, talvez por isso, cada momento da viagem se deu de forma INTENSA. Não há outra palavra. Foi a intensidade que fez com que nos tornássemos melhores amigos em tão pouco tempo. Que vivêssemos em um mundo de união e aceitação, e que patilhássemos intimidades que muitas vezes não revelamos nem para amigos de longa data. A intensidade trouxe paixões e, ás vezes, desafetos. A intensidade permeou cada conversa na lareira, cada momento fazendo filtro dos sonhos, cada filme em que dormíamos no meio, cada festa em que acabávamos bêbados. E, através dela, conseguimos o que tanto almejávamos: tornamos essa viagem única, incrível, indescritível. Aproveitamos cada momento ao máximo e tornamos cada segundo inesquecível.
E também foi a intensidade que fez com que, quando chegássemos em nossas casas, sentíssemos uma enxurrada de emoções. Perceber tudo que se passou não é fácil. Perceber como fomos verdadeiros, como nos doamos, como aceitamos o próximo, como fomos capazes de criar vínculos de forma tão densa. O Rondon não deixa só saudade, deixa sim uma enorme nostalgia, porque todos sabemos que o que vivemos foi uma experiência à parte em nossas vidas, uma paixão de verão, e temos absoluta consciência que nenhuma outra experiência poderá sequer se assemelhar, e que, de forma alguma, poderemos um dia vir a sentir ou viver algo parecido.
O que vivemos está nas fotos, na memória, mas NUNCA se repetirá.

Emoção no transporte coletivo

Estava eu, interna da PUCRS, indo para mais uma noite de plantão na sala 2 do HPS, àquela sala para onde vão os cortados e ensanguentados para que nós, experientes doutorandos, façamos alguns pontinhos. Meu coração era só alegria e felicidade.
No transporte coletivo, como de costume em dia de futebol, os colorados já com a cachaça na mão eram respossáveis por irritar boa parte dos passageiros. Entoavam em coro os famosos hinos, batucavam nas paredes do ônibus e passavam de mão em mão a garrava de coca cola que, nós bem sabíamos, estava batizada com uma pequena quantidade de etanol.
Enqunto se davam os momentos de alegria dos torcedores e irritação dos usuários do tranposrte eu só pensava: “Taí alguns dos bêbados que chegarão no meio da noite, completamente embriagados, com a cabeça literalmente aberta, para eu suturar. Maravilha.”
E não é que o motora, provavelmente gremista, pára o ônibus num posto da polícia e relata a desordem que os guris provocaram no buzum. Pronto! Se instalou a revolta total. Os pivetes negando sair do veículo, os policiais ameaçando com cassetetes, a população gritando em defesa dos piás (-Deixa os guri, podiam tar roubando!!.... Eles só tão cantando!...) e o motorista chingando os passageiros (-Nunca vi defender vagabundo!).
E eu, uma calma usuária do transporte coletivo, já com o humor tranquilo sabendo tudo que me esperava em mais uma noite no HPS, só queria chegar em paz no meu serviço. E faltavam só 5metros pra minha parada quando deflagrou a rebelião.
Por fim, os piás foram levados. Provavelmente os porcos iam confiscar a bebida, revistar seus bolsos a procura de baseados, dar umas pauladas e liberar os guris. Talvez não fossem esses que eu iria costurar a cabeça mais tarde, mas, de qualquer forma, eu sabia bem que ainda havia um bando de colorados prestes a se ferir naquela quarta-feira à noite, dia do amado futebol brasileiro.

domingo, 16 de agosto de 2009

Domingo

Eu esgotei todos neurotransmissores. Toda energia. E domingo, mais uma vez, é um dia interminável. Um dia inútil que poderia não existir.
Talvez a culpa seja da mania de ser sempre 80 sábados a noite. De esquecer qualquer obrigação ou compromisso. De colocar a diversão acima de tudo. E pro domingo, não sobra nada.
Que graça? Saber que se inicia mais uma semana igual a outra qualquer, de estudos, dieta e todo o resto.
Pois bem, hoje só uma música como essa é capaz de me fazer esquecer a depressão que se instala todo domingo.


“Dizem que o seu coração voa mais que o avião
Dizem que o seu amor só tem gosto de fél
Vai trair o marido em plena lua de mel...”

sábado, 15 de agosto de 2009

Cartilha do Bêbado Consciente

Baseada nas encrencas que alguns amigos já passaram por exagerar na dose etílica, aqui vão algumas dicas pra que nem todos precisem passar pelos mesmos problemas pra aprender: (ps: nenhuma dica é baseada em experiência própria... juro.)
Líção número 1: Não use coisas emprestadas quando for beber. Nem coisas de valor (nem financeiro, muito menos sentimental). É deprimente perder, extraviar ou estragar seus objetitos preferidos. E, pior ainda, é ligar pra amiga contando o que aconteceu com aquele brinco maravilhoso que ela te emprestou.
Lição número2: Compre um óculos beeem resistente. Ou deixe ele em casa.
Lição número 3: Nunca combine de ir dormir na casa da professora após ingestão de álcool. Te garanto que você não vai querer aparecer lá bêbado.
Lição número 4: Se for dar uma festa em casa, regada a mussolini ou outra bebida alcoólica, pela sua saúde APAGUE a lareira.
Lição número 5: Se for dar uma festa em casa, deixe todos aparelhos eletroeletrônicos guardados em local secreto, fechados à chave. E deixe a chave com a vizinha gorda que não bebe. Senão é capaz de no dia seguinte você acordar e perceber que aquelas maquininhas que funcionavam perfeitamente agora precisam de um conserto.
Lição número 6: Use sempre camisinha. O risco de esquecê-la porque estava bêbado é bem menor.
Lição número 7: Não tome nenhuma gota de álcool na véspera de plantão. Eu disse NE-NHU-MA. Ou assuma as consequências de se tornar conhecido em todo hospital por ter ido fazer um plantão em coma alcoólico.
Lição número 8: Se está em um grupo e todos dependem da tua presença para ir e vir, simplesmente não beba. Se beber, não misture álcool com ritalina.
Lição número 9: Aliás, nunca misture álcool com ritalina. Mas, em nenhuma hipótese, misture com anfetamina. Procurar o ambulatório de cardiologia do hospital, contar o ocorrido e pedir para fazer um ECG é, no mínimo, constrangedor.
Lição número 10: Se namora um bêbado, não desgrude dele. Ou, existe a possibilidade de algum trombadinha roubar sua carteira, ele nem perceber e depois ainda ficar sem dinheiro pra entrar naquela festa que há 1 mês vocês combinavam de ir.
Lição número 11: Se namora um cafajeste, não desgrupe dele. Ou, existe a possibilidade de quando você se distrair ele agarrar a primeira biscate, e no dia seguinte, colocar a culpa em ti dizendo que tu que não deu atenção pra ele porque estava meio 'alta'.
Lição número 12: Deixe o carro em casa. Se quer cometer suicício existem outras formas mais simples.
Lição número 13: Não agarre o ex da sua melhor amiga. Não agarre o ex da sua melhor amiga. Não agarre o ex da sua melhor amiga. Mentalize até que isso fique arraigado em teus pensamentos.
Lição número 14: Ande com uma plaquinha com o seu endereço. Não deixe, sob hipótese alguma, que o taxista acredite no endereço aonde mandaram ele te largar. Afinal, é capaz de você acabar indo parar no clube Leopoldina ao invés de ir pro bairro Leopoldina.
Lição número 15: Se você economizou toda sua mesada pra assistir ao show internacional mais esperado do ano, não beba. Ou é capaz de você esquecer todo show. E o pior será quando todos vierem te perguntar como foi o show que você tanto falava.
Lição número 16: Não use comandas achadas no chão. Além de ser totalmente antiético, tenho certeza que você não quer ser humilhado e escurraçado pelo dono da casa noturna que você mais gosta de ir.
Lição número 17: Não confunda uma festa com um motel.
Lição número 18: Você pode esquecer tudo, mas NÃO esqueça de cuidar da sua comanda. Ficar na festa até as 8h da manhã ou pagar 400 reais realmente não é uma forma legal de terminar a noite.
Lição número 19: Fotos só são permitidas nos primeiros 30 minutos. Após, fuja descaradamente.
Lição número 20: Agora que você já leu nossa Cartilha e se tornou um Bêbado Consciente, não deixe de relembrar as consequências que o álcool traz:




sexta-feira, 14 de agosto de 2009

8 ou 80

Se bebo, é até cair
Se como, é até engordar
Se estudo, é até saber
Se pergunto, é até entender


Se fumo, é até tossir
Se transo, é até gozar
Se viajo, é até conhecer
Se enfrento, é até temer

Se almejo, é até conseguir
Se não gosto, é até odiar
Se amo, é até sofrer
Se vivo, é até morrer.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A aprovação que precisamos

Podemos saber bem o que queremos. Podemos até saber com certeza onde queremos chegar. Uma profissão, um amor, um país. Qualquer coisa. A vida é feita de decisões, e passamos noites em claro decidindo o que é o melhor pra nós mesmos. O que trará mais felicidade, dinheiro ou sexo. Porque, então, se assumimos todas consequências de nossos atos... Se somos os únicos que iremos sofrer ou não, que nos tornaremos ricos ou pobres, que seremos protagonistas de um lindo casamento, ou envelheceremos sozinhos.... Porque precisamos tanto de aprovação? Porque nos preocupamos tanto com o que os outros vão pensar?
Por trás de cada atidude existe uma razão que nos leva a agir de certa forma, mas quem está de fora não conhece a verdade. Nenhuma outra pessoa é capaz de saber o que se passa em nossa mente, ninguém pode compreender os motivos que nos levam a tomar cada atitude. E nunca entenderão os sentimentos e os pensamentos. Só quem vive sabe. Só quem pensa e sente, sabe.

Quando vamos nos libertar, quando vamos deixar os preconceitos da sociedade de lado, quando vamos assumir nossos desejos e sentimentos?
Nós continuamos precisando de aprovação, aprovação dos pais, dos filhos, dos vizinhos, do chefe, do cobrador do ônibus e do entregador de pizzas. E, enquanto não nos libertarmos, uma parte nossa vai ser 'o outro'. Uma parte que vai ficar pensando 'como ele gostaria que eu agisse, como devo agir?'. E, nunca seremos completos. Nunca sereremos completamente felizes. Completamente nós mesmos. Seremos sempre um reflexo do que a sociedade gostaria que, de fato, fôssemos.

Como seria bom se a teoria e a prática se sobrepusessem. Libertar-se dos julgamentos não é tarefa fácil. É preciso força pra escolher o caminho alternativo, pois muitos serão aqueles prontos a te criticar por qualquer passo em falso. Mas eu, como boa doidivana, luto pela minha felicidade e tento me libertar das amarras que me prendem. Mas só eu sei como é difícil ás vezes.



segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Família

Meu pai já foi meu herói. Não é mais.
Já foi aquele cara que me incomodava se eu ficava acordada até tarde. Não é mais.
Já foi aquele em quem eu ia fazer massagem depois do almoço de domingo. Não é mais.
Sim, quando ele escolheu morar com outra família deixou saudade.
Como se um filho tivesse, de repente, virado rebelde e abandonado todos projetos estudantis. E tivesse fugido de casa para nunca mais voltar.
E mesmo que visitasse esporadicamente, o relacionamento nunca mais seria o mesmo.
Afinal de contas, mais cedo ou mais tarde eu me mandaria, não? E daria no mesmo, certo?
É provável.
O estranho é sentir como faz falta o convívio e como a distância é capaz de afastar as pessoas.
Não há culpados. O cordão umbilical mais cedo ou mais tarde seria cortado.
E ontem, dia dos pais, pra mim pareceu mais um domingo chuvoso do que qualquer outra coisa. Um dia q
ue, no final, acabou de forma divertida.
Num bar, comi fritas e tomei cerveja com amigas que mais parecem irmãs.

domingo, 9 de agosto de 2009

Eu

Quando decidi, finalmente, deixar minha felicidade acima de tudo muitas coisas tiveram que mudar. Ser eu mesma fazia parte. Minhas roupas, meu jeito, minha irritação, minha alegria. Cada atitude, cada pensamento, cada jeito.O principal foi deixar de me preocupar com o que os outros pensam ou deixam de pensar. Me divertir, sorrir, gargalhar, dançar, abraçar, beijar.Tudo ocorreu naturalmente, e quando vi já era tarde. Já tinha me tornado eu mesma. Feliz de verdade, ansiosa de verdade, irritada de verdade. Eu não faço questão de ser perfeita, nem de ser a melhor, nem a mais rica, nem a mais bonita. Eu sou eu, e é simples. Goste quem gostar.