segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Felicidade

Houve uma época em que tudo que sempre sonhei começou a se tornar realidade. Planos que há muito eu fazia se concretizaram, eu percebia que estava, enfim, pondo em prática àquilo que tanto quis. Aos poucos tudo foi, então, se acertando. E teve um dia que foi o ápice. Eu estava entre pessoas adoradas, vivendo momentos únicos e incríveis. Do meu lado, um cara que me idolatrava, me fazia rir, fazia eu me sentir a pessoa mais especial do mundo. E eu gostava dele. E nesse dia, inesquecível, duas professoras e amigas me falaram uma coisa que me marcou: Que parecia que eu iria me tornar muito realizada na área que havia escolhido seguir, a psiquiatria, que combinava comigo, e que por isso eu deveria estar mais feliz ainda. E foi aí que não coube mais alegria em meu coração, enfim parecia que tudo havia se acertado, como eu estava feliz.
No dia seguinte acordei com uma das maiores ressacas da vida. As lembranças não eram muitas, mas suficientes pra me fazer ir até o banheiro, me olhar no espelho e começar a chorar. Tomei um banho demorado, onde as lágrimas se misturavam às gotas do chuveiro. E, durante todo dia, o que eu havia construído em um bom tempo, desmoronou. Tudo foi por água a baixo, a felicidade, os sonhos, a realização. E foi aí que percebi que a felicidade nunca será plena. E sempre que tudo estiver perto de estar bom demais, terei certeza: logo logo desmoronará. E desde então desisti de buscar tanta alegria e felicidade. Só quero cumprir meus horários, ganhar meu diploma, e quem sabe, viver alguns momentos bestas e alegres. Hoje, isto me basta.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sentir...


"Se sentir é uma estranha forma de pensar, um exagero da sensibilidade, sintais muito. Mas não a exiga dos outros. Cada um tem sua própria sentissência. Há coisas que não carecem ser vistas, bastam senti-las. Mas cada um faz a seu modo."
João Manuel Martins

Realmente, sentir é um exagero da sensibilidade. São poucos os que realmente sentem, os que se deixam guiar pelos sentimentos. E, na verdade, se todo exagero é maléfico, existe vantagem em ter a sensibilidade aguçada? Na minha profissão, sim. Sem sensibilidade a medicina vira mais uma mercadoria do sistema. Trabalhar deixa de ser cuidar de vidas, cuidar do próximo, e se torna um trabalho unicamente por dinheiro. Ser médico deixa de ter a função social e se torna mais um produto do mercado. Na verdade pensar assim é a ordem do sistema, mas só cai nessa quem não sente. Mas, até que ponto podemos cobrar dos outros o fato de não terem a mesma sentissência? Eu, livre como sou, respeito cada um a seu modo. E não cobro, nem julgo. Ou pelo menos tento não julgar. Mas, não é tarefa fácil perceber que são cerca de 10 anos de estudo para tornarem-se médicos absolutamente desinteressados com os problemas que a saúde pública e o povo enfrentam em nosso país. Os médicos preocupam-se única e exclusivamente em, após a formatura, conseguir abrir o próprio consultório, filiar-se a algum convênio, e tentar atender cada paciente o mais breve possível, aumentando assim os lucros no final do mês. E ainda tem quem pense que aqueles provenientes de escolas médicas públicas tem uma dívida com a sociedade, e que deveriam prestar um ano de serviço civil obrigatório. Eu discordo. Aqueles que vem de escolas particulares também precisam auxiliar no desenvolvimento social do país, o médico tem uma responsabilidade inerente e isso independe de sua escola de formação.
Sem mais delongas, percebo como realmente é difícil aceitar as diferenças de pensamento e da forma como cada um sente seu mundo ao redor. Sim, eu estou sensível ao extremo, e os motivos são incontáveis. Espero um dia pegar um pouco da insenssibilidade que permeia as pessoas que me cercam... e espero conseguir transmitir um pouco de minha sensibilidade excessiva, tentando quem sabe tornar o mundo mais justo e humano.

“Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo” (Florestan Fernandes)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Família II

Ela é cega, não me enxerga. Ou finge não ver. Prefere acreditar que sua filha é perfeitinha, vaidosa, que se importa com o visual.... Não, eu não sou assim. Eu uso all star, minhas calças são largas, mal lembro a última vez que fui em um cabeleireiro. E se achas, mesmo, que vou mudar meu jeito despojado só porque terei um diploma na mão, infelizmente te decepciono de novo. Ser médica não me tornará, da noite pro dia, na mulher mais bem produzida do bairro. E se tu quereres me agradar, por favor, aceite meu jeito, me olhe e veja como sou, veja os lugares onde vou, as pessoas com quem me relaciono. Se queres me bajular, preste atenção em mim. Eu não vou ficar feliz quando ganho um terninho que tu achas bonito ou quando compras pra mim uma bolsa que tu gostas.... pode ter certeza, nunca vou ir trabalhar de terno. E não é porque tu me dá um que vou mudar. Não. Simplesmente eu não sou aquela filha perfeita que tu tanto sonhou ter enquanto me carregava no teu ventre. Aceite ou sofra. A escolha é tua.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Vida Assegurada

Liguei para a seguradora para cancelar um seguro de vida que precisei fazer há algum tempo.
- Qual o motivo do cancelamento? O serviço não lhe agradou?
- 0.o

Sim, isso mesmo. Eu morri mês passado e o pagamento do seguro atrasou 15 dias. Por isso estou cancelando.
Ou então... Vocês não dividiram igualmente os valores entre meus familiares quando faleci, não quero mais essa seguradora!
Sei lá, fiquei pensando o que deveria responder e como não pensei em nada respondi somente 'Desinteresse mesmo.' Curto, grosso, conciso e eficiente. Consegui em uma só ligação cancelar a chonga que me descontava mensalmente 13 reais da conta já há alguns bons anos. Na verdade a minha vontade era dizer 'Não pretendo morrer nos próximos meses, ou anos.. por isso não vejo nexo em ter um seguro de vida.'
De qualquer jeito, o que quer que venha a acontecer a partir de agora, minha família vai continuar pobre como sempre, e eu espero, realmente, que não tenha sido uma burrada cancelar o seguro =]

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sanidade

“Tudo é questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo”

Incrível como a vida é corrida. Quando chega outubro começa a mesma ladainha de sempre 'Como esse ano voou... nem notei e já tá no natal...'. E o pior é que não é exagero. Não percebemos o tempo passar porque estamos sempre preocupados demais em cumprir os horários, em alcançar as metas, resolver os problemas. E afinal de contas é disso que vivemos: resolução de problemas. Hora o problema é pagar umas contas, hora é emagrecer uns quilos, hora é conseguir um emprego, passar no concurso, ou o que for. E sempre que enfim resolvemos o maior de todos os problemas, surge uma nova barreira. Parece uma maratona sem fim, sem pausa para descanso, e cada vez com mais obstáculos a serem vencidos.
E viver nesse mundo corrido, competitivo e exigente não é nada fácil. Mas é só olhar pro lado que a gente percebe: cada um tem uma forma de administrar todos esses estressores. Uns bebem umas caipiras e passam noites em prostíbulos, outros viram workaholic. Alguns partem pros esportes (passam o dia na academia), outros vão ao shopping e gastam até o cheque especial. Tem aqueles que se afundam nos doces e gorduras, enquanto outros preferem varar as noites em orkut, msn e twitter. E por mais que pareça que cada um tenha uma forma louca para enfrentar a vida, na verdade esses que são os mais sãos.
Louco é aquele que se entrega pro estresse. Que não descobre sua forma de administrar tudo de ruim que (invariavelmente) acontece. Aquele que já não suporta encarar um problema de frente, e que, ao mínimo sinal de que algo vai dar errado, entra em surto de ansiedade, angústia, irritação...
E taí o segredo da felicidade. Manter a mente quieta... Mas não é só isso, essa é a receita para, ao menos, tentarmos não enlouquecer nesse mundo louco em que vivemos.